quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Palavras desesperadas

Já era tarde da noite, mas seus olhos não conseguiam se fechar. Seu relógio dizia que já pasará da hora de descansar sua mente e deitar seu corpo, mas sua mente e seu corpo não queriam obedecer.
Em algum quarto escuro num lugar distante e deserto, ela sentou-se num canto da cama e, à meia luz, sua mão corria o lápis sobre uma folha de papel e eternizava pesamentos nunca antes pronunciados. Palavras tão intimas que turbilhavam em sua cabeça e deixava-a inquieta. Queria poder arrancá-las de lá e deixa-las somente no papel. Era isso que tentava fazer em vão: descarregar todas elas.
Coitada!, esqueceram de ensiná-la que ideias, pensamentos e sentimentos a gente não abandona. Ou melhor, não abandonam a gente. Eles criam raízes, penetram na gente e mesmo que machuquem e nos incomodem são parte do que somos.
 A nossa pobre personagem começa a presionar mais forte seu lápis contra o papel. Mas não está adiantando não é mesmo? É a partir de agora que aquelas palavras são mais dela do que nunca. Não estão somente em sua mente, agora estão nos seus olhos, podem ser sentidas em seus dedos e ouvida na boca de outras pessoas. Talvez até se se respirarmos bem fundo ainda possamos sentir o cheiro de desespero proveniente delas.
 Ela mal sabia que a partir daquele momento deu vida a tudo aquilo que queria jogar fora. Tudo aquilo que pensava estar se livrando em uma folha em branco agora existia mais do que nunca. Mas é verdade também que agora ela se sentia um pouco melhor. Com suas mãos já dormentes e cansadas da força que fizeram, ela agora tinha um motivo real pra não se sentir bem.
 Tarde da noite, estomago vazio e cabeça cheia, se alguem perguntasse ela teria uma boa desculpa: estava cansada. Mas a gente sabe que aqueles olhos enormes e vermelhos, meio alagados e perdidos, não era só cansaço. Havia muito mais coisa ali dentro do que realmente caberia em uma folha de papel. Aquela folha do começo da história que agora ela amassa tendo a terrivel ilusão que enfim conseguirá repousar sua cabeça no travesseiro e dormir sossegada. 

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