quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Quanto mais você aguenta?

Ele chegou. Perturbando-me, como sempre. Me tirando do eixo. Fico querendo que vá embora logo. Alguma coisa acontece na minha vida quando ele chega que eu não sei explicar direito, eu não sei sentir direito. Tudo vira desespero, angústia, ansiedade. As lembranças que eu pensava ter enterrado voltam a tona, os medos que eu queria ter superado invadem-me. Eu sei que quando ele chega é hora de mudança, querendo eu ou não. As coisas vão mudar. Radicalmente em algumas das vezes, sutilmente em outras.
É até ridículo. Ridiculamente inconveniente o modo como ele vira tudo de cabeça pra baixo: o que era certo se esvai e o inexistente me preenche. Me incomoda porque tudo fica muito confuso e qualquer problema parece dobrar de tamanho. Eu só quero que ele passe logo, não gosto da sua presença, porque fins me perturbam. E ele é o pior dos fins: traz arrependimentos, insatisfações, sonhos que não se concretizaram...depois faz a gente vestir roupa branca, por um sorriso no rosto, assim como se tudo tivesse sido perfeito, agradecer e prometer tudo de novo.
Não gosto do fim do ano porque ele faz questão de demorar, arrastar-se provocativamente. Quanto mais você aguenta? Parece debochar da minha inquietude. Ele fica esperando o momento que eu vou me render, entregar o jogo. Eu fico simplesmente tentando aguentar. Me consola saber que quando ele passar vem a parte que eu tanto desejo: o começo.
Porque a gente têm que passar pelo fim pra voltar pro começo?

domingo, 4 de agosto de 2013

Veja bem, meu bem...

Aqui no meu peito não tem mais espaço. Não cabe mais nenhuma decepção, desilusão ou saudades. Por isso já não acolho mais esse sentimento que você diz ter por mim. Vá se alojar em outro coração. O meu está cheio. Cheio de amor próprio e novos planos que não incluem mais você.
Tudo aquilo que um dia já cresceu loucamente como trepadeira descontrolada foi arrancado pela raiz.
Aqui dentro, agora, tudo é campo aberto. Limpo. Livre. Nada me impede, nada me machuca, nada tira a beleza da minha paisagem. A vista está bem mais leve sem você. Não precisa voltar, ok? Não faz mais falta.

quarta-feira, 24 de julho de 2013

A garota do espelho

       A garota do espelho me olha assutada quando apareço de cara limpa e cabelo despenteado. Parece mais forte do que ela o impulso de levar as mãos à cabeça e tentar arrumar o que eu não vejo nada de errado. Ela não entende que beleza não se reflete ali, mas tenta a todo custo seguir padrões que a impuseram para considerarmo-nos bonita.
       Coitada, ela é tão rasa e limitada. Vive naquele mundinho de vidro e acha que o modo como ela se arruma ali, a roupa que veste ou a maquiagem que faz determinarão quem eu sou. Ela não se relaciona com ninguém, eu sim. E sei que o que ela me forçar a fazer de frente pra ela não vai influenciar nisso. Mas ela não me ouve.
        Travamos grandes batalhas todos os dias. Ela me dizendo que eu estou feia. Eu dizendo a ela que não tenho que ser bonita. O meu argumento de que beleza é um sentimento abstrato que toca a alma e não os olhos parece não atingi-la. A minha explicação sobre como os outros querem impor como devemos ser, sobre a indústria que cria um padrão de beleza inalcançável para lucrar minhões, sobre a nossa imersão numa cultura que se preocupa com corpos e não com cabeças, que enxerga peito e não coração, que nos faz comparar violão com mulher, homem com príncipe e beleza com felicidade....NADA a faz desistir de me julgar. O tempo todo.
       Como ela é pedante e inconveniente! Mesmo quando não a vejo ela ecoa na minha cabeça. Tenta controlar o que eu faço ou o que eu como para que nada que ela goste mude. Eu grito que não estou nem aí pra ela, mas ela não acredita.
       Essa luta me cansa tanto! Mesmo assim eu juro que não a deixarei ganhar. Eu não quero acabar igual a ela: uma imagem ambulante a ser admirada.  

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Pode assoprar que não vou cair.


Meu muro hoje é de tijolo. Antes, já foi de madeira e já foi de palha, mas um sopro levou tudo. Um não: dois, três, quatro...uma ventania. Levou a inocência, levou a esperança, levou toda a beleza. Deixou só os restos espalhados pelo chão: pedaços de paixões, de sonhos, de vontades. E eles nunca mais voltaram a ser como antes.
Meu muro de tijolo é bem mais seguro. Contem corações levianos, evita machucados, afasta ilusões. É certo que também não deixa passar muito as coisas boas - mas quanto a elas, tenho dúvidas se elas realmente estão aí a fora, além do meu muro.
Prefiro não trocar o certo pelo duvidoso no que diz respeito à proteção. Não me orgulho disso, não queria isso. Mas o muro já está quase pronto...de qualquer forma é muito mais difícil alguém derrubá-lo. Quer eu queira ou não.

sábado, 15 de junho de 2013

Acontece com todo mundo

Os outros te dizem que essas coisas acontecem com todo mundo, que já passaram por isso, que daqui a pouco vai melhorar. Te empurram umas histórias antigas e uns conselhos batidos. Dizem saber como você está se sentindo.
Mas você força o sorriso, diz um obrigada meio sussurrado e segura as lágrimas pra poder continuar. Finge interesse naquilo que não te interessa, fala com pessoas com quem não quer falar, assiste histórias que não acredita.
Desistiu do céu azul, das suas melhores férias e de suas músicas preferidas.Abandonou suas crenças, suas paixões e seus amigos. Cansou de ouvir sobre destino, sorte, momento certo, lugar certo. Você é simplesmente a pessoa errada.
A sua vida vira ao avesso e você descobre que o avesso não é o seu lado certo. Que o lado certo não é o seu lado certo. Que tem que haver algo a mais que esses dois lados pra alguma coisa sair desse errado. Não é um dia ruim, não é uma fase ruim, não é um ano ruim. Ruim não é o suficiente pra definir.
Os outros ainda assim vão insistir que é exagero. Que vai ficar tudo bem. Tão vago....tão frase feita.
Você acredita. Ou não.
Você não tem escolha.

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Pra mudar o mundo

Eu tenho vontade de escrever coisas que mudem o mundo. O mundo de alguém pelo menos. Um pensamento de alguém que seja. Um escrever que tivesse a capacidade de expandir horizontes, fazer ouvir o que não é dito, sensibilizar por onde nem se sabia que se pudesse fazer, destruir fronteiras que todos pensam que não existem.
Aí vem meu lado vegetariana querendo dizer que existe um sistema muito maior por debaixo do nosso prato, vem meu lado feminista querendo gritar todos os absurdos que mulheres são obrigadas a passar pelo simples fato de serem mulheres, vem meu lado cidadã querendo lutar para que essa merda de sistema capitalista não exista, vem meu lado brasileira querendo estrangular aqueles que esbravejam que o Brasil não tem cultura.
Aí dá vontade de explicar que não existe uma lei da natureza que nos "obriga" a comer carne pra sobreviver e que se eu não como carne eu ainda sou uma pessoa "normal", que as mulheres não são só peito e bunda nem são obrigadas a ouvir que não "se dão ao valor", que os R$0,20 a mais na tarifa do ônibus não é "só" uma coisa a toa com que gastam tempo fazendo "baderna", que funk e grafite também são formas de cultura.
Eu tenho vontade de rasgar o papel e quebrar o teclado pra escrever milhões de ponto de vistas e argumentos pra tanta gente que tem a cabeça do tamanho de um ervilha e não está nem aí pra isso. Que acha que televisão só fala a verdade e fala toda a verdade do mundo. Que ouve a grande mídia falando bem do governo, mas não conta porque houve greves em quase todas as universidades federais do país.
Eu queria poder fazer com que as pessoas não acreditassem em tudo o que se noticia, que lembrassem que tudo tem recorte de interesse, que quisessem questionar, duvidar, contestar, reclamar, protestar. Prostesto de verdade! Não apenas escrever sobre tudo isso em um blog na internet.
....é...que merda de mudança do mundo eu sou.

segunda-feira, 4 de março de 2013

Eu só quero é ser feliz

De repente me deu uma vontade de dançar...colocar minha música favorita, fechar os olhos para não ver o mundo e o mundo não me ver e deixar o vento conduzir meus passos.
De repente me deu uma vontade de pôr um sorriso no rosto e ser feliz...sem motivo, sem medo, sem prazo.

domingo, 3 de março de 2013

É o que temos pra hoje

E eu que já esperei tanto de tantas pessoas, hoje já não espero mais nada. Eu que já acreditei em destino, amores perfeitos, amizades eternas, hoje já não acredito em mais nada. Eu que já quis me esconder, fugir, desaparecer, hoje não quero mais nada. Eu que já fiz planos e montei roteiros, hoje sigo sem rumo nem destino. Eu que já procurei incansavelmente por companhia, hoje descobri que sigo melhor sozinha. Eu que já tive tanta pressa, hoje quero fazer tudo com muita calma. Eu que já me culpei e já me rebelei comigo mesma, hoje percebi que o problema não sou eu. Eu que já me inconformei com tanta tristeza, hoje eu apenas vivo feliz, desejando mais nada.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

De copos cheios e corações vazios

 Estavam todos lá, de copos cheios e corações vazios. De palavras, caras e bocas fáceis e atitudes firmes. E então eu percebi que não queria mais fazer parte daquela multidão. Todos estávamos a procura de algo no fundo do copo que não achávamos em nós mesmos. Faltava amor próprio. E eu me senti desamada por mim mesma. Me senti sozinha e perdida como um peixe fora d'água, parando pra pensar o porque e pra que eu estava ali. Mãos que se encontram e não se reconhecem, lábios que se tocam e não se aconchegam. Qualquer "gostei de você" soaria "eu te amo" naquele lugar que exalava carência. "Olhem pra mim" era o que parecia dizer todos os corpos dançantes.
Boates lotadas e solitárias, noites curtas e intermináveis, "amores" intensos e superficiais. Mais perdida do que nunca, mais certa do que nunca, eu soube então que não queria mais fazer parte daquele mundo. Não queria continuar enchendo meu copo e me sentindo vazia.