sábado, 6 de novembro de 2010

Inimigos do governo

Os jovens vêm sendo tratados como vilões a serem combatidos, como se fossem eles os únicos causadores da desordem na sociedade. Depois de quererem diminuir a idade penal, as autoridades vêem necessário um toque de recolher para menores de 18 anos, alegando que assim combateriam as infrações juvenis e esquecendo que é o próprio governo responsável por elas.

A falta de oportunidades como estudo, emprego, lazer para muitos jovens obrigam-nos a se envolverem em crimes, drogas e álcool, pois se sentem esquecidos e rotulados inimigos do Estado, que ao invés de melhorar suas condições de vida quer mantê-los preso em casa.

Proibi-los de sair depois de um determinado horário, é como varrer a sujeira para debaixo do tapete: não resolve o problema, apenas o mantêm longe dos olhos. O que deveria ser feito é investir na educação e nas formas de entretenimento e incentivar a contratação de jovens no mercado de trabalho.

Mas ao invés disso, estão criando uma juventude revoltada. Fazê-los reféns do governo está deixando-os mais descrentes na política e no progresso do país e ensinando-os preconceitos e intolerância com aqueles que estão tentando se adaptar com essa sociedade errante.

Tanta overdose de poder e abstinência de preocupação levaram às autoridades acreditarem que o toque de recolher seria a melhor solução. Mas acabar com a liberdade de ir e vir não colocará a ordem que desejam. Será apenas mais uma proibição a qual os jovens tentarão driblar.

Blackout

Pararam todos em volta da vela. Esperavam a luz voltar. Como se a eletricidade fosse o sentido do movimento, o combústivel da vida. Todos ali estáticos, esperando por noticias. A vida parou por um tempo naquela mesa. Mas não só naquela mesa, em várias outras. A luz era a esperança de todos e a esperança tinha ido embora. E até quando? Era a dúvida geral.
Sem TV, internet ou celular. Não foram apenas as pessoas que pararam, mas tudo. Agarravam-se à radinhos de pilhas. Que irônico. Tanta tecnologia e dependiam do instrumento mais primitivo dos que tinham. Só ele conseguia responder algumas das questões de todos.
Na casa à luz de vela só a música do rádio e o fogo da vela reinavam agora. Só agora eles conseguiram um espaço naquele lugar. Só agora se ouviam conversas, se contavam histórias, se lembrava o passado. Tudo porque a eletricidade foi embora.
Mas alguém ligou a TV no rádio do carro. É a novela passando no rádio. É a eletricidade dizendo que está por aí. Agora eles se levantaram da mesa, pararam de falar e foram fazer suas tarefas. Como o som da TV é poderoso. Mesmo só o som já é capaz de dar corda naquelas vidas. Como é poderosa a eletricidade. É viciante, vital!
Agora é esperar a luz voltar. Se comentará do blackout, se descobrirão as causas e se arrumará o problema. E a vida continuará a mesma.