quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Antes da meia noite

 Antes que o dia acabe eu ainda estou aqui esperando você. Eu sei que provavelmente você não vai aparecer, afinal você deixou bem claro: 'se der', e eu sei que isso é um não disfarçado, mas a simples possibilidade do talvez, a pequena esperança que você deixou nesse se der ainda não me deixou pegar no sono. Eu já arrumei a casa, já me enfeitei pra você, fiz seu bolo preferido e roi todas as unhas que tinha. E depois de zapiar todos os canais da TV e as milhares de músicas do meu computador só sobraram a angustia, que nesse momento, começa a tomar conta de mim.
 Se der. Quer dizer que não deu. Quer dizer que a sua mulher decidiu não sair com as amigas, ou preferiu ficar em casa acordada até mais tarde. Pior, ela deve estar agora com você nos braços tentando retomar o lugar que eu assumi em sua vida. Eu sempre pensei que ser a outra nunca me faria mal... Mas é ela quem está com você agora. Sou eu quem está se sentido traída. Por que mesmo você ainda não largou dela?
 Olho o celular só por desencargo de consciência: ele pode ter tocado e eu não ouvi. Mas nada. Nada de ligações perdidas, nada de mensagens. Nem um 'desculpa' esfarrapado. Nenhuma satisfação. Ok, nós prometemos nenhum compromisso, nenhuma cobrança...Mas o seu sorriso, o seu beijo, as suas palavras... Eu não consigo resistir mais. Eu quero ter você só pra mim, dividir dá muito trabalho, e ultimamente anda doendo muito.
 Dois toques de leve na porta me despertam do meu devaneio. Pulo imediatamente do sofá  pra abrir a porta:
- Eu pensei que você não vinha mais!!
- Eu não venho mais!
- Como assim?
- Eu não posso largar dela. Ainda a amo. - pareceu uma faca atingindo meu peito.
- Desde quando?
- Desde sempre. Eu só não tinha percebido isso antes.
 Mais uma vez. Mais uma vez largada por outra. Senti que as lágrimas brotavam dos meus olhos e estavam prestes a desmoronar pelo meu rosto. Mas cansei de ser frágil, de ser a coitada. Muitas coisas me vieram a cabeça mais nada conseguia sair pela minha boca. Apenas limpei o rosto com as costas da mão e o convidei para entrar:
- Acho que precisamos conversar.
Ele concordou, sentou no sofá:
- Só um minuto, já volto. – Fui até a cozinha, abro todas as gavetas suavemente, olho para o armário procuro algo por lá também. Retorno a sala.
- Não tem como voltarmos! – ele me disse, eu apenas balanço a cabeça
- Eu sei. Eu só queria que você se sentisse por um momento como eu me sinto – levantei e com toda a força que tinha enfiei uma faca em seu coração. Vi meu sofá branco ganhar colorações avermelhadas. Ele me olhava com piedade. Agora sim era justo, ele estava sentindo como eu estava me sentindo por dentro: morta.
http://sonhosdeamanda.blogspot.com
Sento de frente do sofá e fico admirando a cena, todos os meus sofrimentos vão embora. Antes dele dar o último suspiro caminho até ele:
- Eu te amo. É ruim isso acabar assim, mas era a única solução. – Vou até o terraço ascendo um cigarro e pego meu celular.
- Residência dos Smiths, quem fala?
- Eu.. eu acabo de matar o Sr. Smiths. – ouço um sonoro tu do outro lado da linha. Vou terminar essa caixa de cigarros e depois penso no que irei fazer daqui para frente. Eu morri, era justo ele morrer também.
...
Texto em co-autoria com Pâmela Rosin!

2 comentários:

Pâmela Rosin disse...

Como diz o título de um livro da Agatha Christie: "Murder is easy".

Amanda Carneiro disse...

fácil pra vc sua assasina profissional!! hauhauhauha Eu num tenho tanto sangue-frio! LOL mas vou aprendendo, quem sabe....