sexta-feira, 18 de março de 2011

Tarde Demais

Por que me colocaram nessa roupa!? Esse terno importado, a minha mais nova gravata, o meu sapato preferido... pra que? Que eu saiba agora não vai ter nenhuma festa, eu não vou precisar impressionar ninguém e tudo isso que eu tenho não importa. Os vermes não se importam se é couro ou malha, se é seda ou cetim, se tem ouro ou não. Tudo o que eles querem agora é a minha carne.

Enterrado a sete palmos do chão em uma caixa de madeira tudo o que me resta agora é a coisa que eu menos cuidei em vida: eu mesmo. Não cuidei em ser feliz, em fazer outros felizes, não cuidei de viver. Esse corpo em processo de apodrecimento foi simplesmente a capa de um homem movido a ganância.

Tive carros, mulheres, fama e dinheiro. Fui a Roma, Paris, Londres e Miami. Conheci atletas, políticos, cantores e atores. Perdia a conta de quantas casas tive, de quantos iates comprei, em quantas roupas gastei. Mas e daí? Agora eu estou virando poeira embaixo da terra! Como todo mundo virou ou vai virar.

Faltou sonho em minha vida. Faltaram desafios. Eu queria ter tido mais problemas, mais dificuldades, mais metas. Eu queria poder dizer que eu tive milhões de amigos. Amigos mesmos, que estariam chorando a minha perda agora. Na verdade eu me contentaria em ter unzinho que fosse. Eu queria ter amado alguém de verdade, saber como é um amor que me tirasse o sono e me fizesse perder a cabeça. Pelo menos eu poderia falar que morri de amar.

Não. Eu morri de falta de amor. De falta de vida. Eu morri sem saber por que vivi! Eu estou sozinho, travado, imóvel e enterrado e nada levo de bom comigo. Nem uma lembrancinha feliz, nem uma pessoa amada, nem um desejo realizado. Eu achava que tinha tudo e agora acho que nunca tive nada. Me achava o maioral, poderoso e indestrutível. Agora eu sei que eu sou igual esses bichos aqui em baixo que se alimentam de mim, quer dizer, eu sou pior, menor e mais fraco que esses bichos que estão se alimentando DE MIM! São eles que me julgam agora. Seu trouxa, seu terno importado tem o mesmo gosto que o chinelo que comemos semana passada..

Trouxa. Inútil. Morto! Esse sou eu. Uma marionete que atuou sem vida em um cenário preto e branco e numa historia sem coadjuvantes. Pena que eu só percebi isso agora, tarde demais.

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